Fernando Nègre e a lição que ainda não aprendeu: maturidade é fundamental em crise

Eu tinha uma expectativa quando cheguei na coletiva de imprensa do vereador Fernando Nègre na tarde desta quarta: ouvir argumentos jurídicos sólidos, uma defesa serena, o anúncio de um recurso bem fundamentado. Afinal, o vereador é reconhecido por ser produtivo, atuante, e muita gente — inclusive eu — considera uma injustiça ver seu mandato ameaçado por um erro que não foi dele.

Mas desde cedo o tom já era outro. Pela manhã, Fernando me bombardeou com críticas e reclamações no WhatsApp, indignado com a matéria de ontem, como se eu fosse o culpado pela sua cassação. E eu ainda tentei ponderar, pedi que refletisse melhor, que respirasse antes de apontar o dedo — afinal, a sentença veio da Justiça Eleitoral, não do Blog. Se tinha que direcionar a irritação a alguém, certamente não era a mim e aos demais colegas de imprensa.

Mesmo assim, a decepção foi inevitável. O que vi foi um festival de imaturidade. Um parlamentar visivelmente nervoso, descontrolado, atacando pessoas e veículos de comunicação que sempre lhe deram espaço, simplesmente porque desta vez a notícia lhe desagradou. Preferiu o caminho fácil do vitimismo, da culpabilização da imprensa (ironicamente chegou a me lembrar o Bolsonaro), dos rótulos ideológicos — e desperdiçou uma chance de liderar com equilíbrio em um momento de crise. E a sentença do juiz Clairton Spinassi lhe dava um prato cheio de argumentos.

E que fique claro: falo aqui do Fernando enquanto homem público, enquanto vereador eleito, e não do Fernando que conheci há 15 anos, que já foi meu companheiro de trabalho nos tempos do AquiAgora.net, e que já frequentou minha casa em algumas ocasiões. A crítica é ao político, não à pessoa que tenho apreço, apesar da decepção momentanea.

Mea culpa

Vamos aos fatos: eu cometi dois erros na matéria inicial. Usei equivocadamente o termo “condenado”, quando juridicamente não é isso. Mas, no meu entendimento ele foi sim condenado a perder o mandato, mesmo que não tenha culpa alguma no episódio. Independente disso, tão logo fui alertado do erro, fiz a correção para o termo jurídico correto.

O segundo erro, também corrigido logo depois, é que citei duas candidaturas laranjas quando a sentença reconhece apenas uma.

Meu erro não se espalhou por negligência, mas por outros veículos que copiaram o texto antes da correção. Se Fernando tivesse um mínimo de maturidade política, teria pedido uma ratificação, buscado o diálogo, afinal ele conhece todo mundo da imprensa local, pois atuou muitos anos na área. Conhecendo os colegas, duvido que qualquer um teria se negado a corrigir.

Mas não. Preferiu a pancadaria verbal.

Sobrou para a imprensa toda: “A imprensa rondonense ontem deu a mostra da sua face mais nefasta”, me disse em mensagem de texto pela manhã e reafirmou quando questionado na entrevista coletiva. Aliás, a raiva dele era tão espumante que largou essa: “A desinformação tem sido constante em seu blog”. Aí fui embora.

Curioso, porque foi neste mesmo Blog que Fernando ganhou inúmeras manchetes positivas neste último ano:

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E várias outras que seguem no site, basta dar uma procurada.

Tempestade se enfrenta com altivez

Fernando não foi condenado por ato ilícito, não teve seu nome envolvido na fraude e continua com os direitos políticos preservados. Mas não tem como esconder: foi sim penalizado, com a cassação do mandato. E quando se é eleito pela Federação e a Federação cai, o efeito atinge quem foi eleito, com ou sem culpa. A dureza da lei não dá direito ao ataque descontrolado.

Me decepciona ver um vereador com tanto potencial se comportar de maneira tão primária. O ataque à imprensa é o caminho mais curto para o isolamento político e a desconfiança pública. Ainda mais para quem por tantos anos labutou nessa área.

O povo respeita quem enfrenta a tempestade com altivez, não quem grita “perseguição” na primeira pedrada política que leva. Dor e noites sem dormir não são exclusividade de quem tem mandato: milhares de pessoas perdem o sono todos os dias por conta de luto, doença, desemprego, boletos que não conseguem pagar.

A vida pública é uma escolha — quem decide trilhar esse caminho precisa ter estrutura emocional para lidar com momentos difíceis. Se você, sua esposa, sua mãe e sua sogra perderam o sono, é compreensível — mas era exatamente sobre isso que deveriam ter refletido antes de entrar na política.

Lamento dizer, Fernando: você é, sim, um vereador produtivo e com potencial gigantesco na política. Seria uma grande perda para Marechal Cândido Rondon se o TRE confirmar sua cassação. Mas sua postura nesta crise mostra que ainda precisa amadurecer — e muito — para ser o líder que sua militância acredita que você seja.