Com prazo de 10 dias do Ministério Público (MP) correndo, Prefeitura, Câmara e Secretaria de Saúde têm que decidir: seguem a lei ou seguem a gritaria anticiência das redes sociais e de uma vereadora isolada, que, mesmo em absoluta minoria, insiste em espalhar desinformação com a convicção de quem crê estar combatendo dragões. Me refiro à Recomendação Administrativa feita pela promotora de justiça Nara Mirella Leal Palrinhas, da 3ª Promotoria de Justiça de Marechal Cândido Rondon.

Desde o início da atual legislatura, a vereadora Tania Aparecida Maion (Republicanos) transformou a tribuna da Câmara em púlpito de suas verdades alternativas, onde dados científicos viram opiniões e decisões judiciais viram sopros de fé. Ela fala para uma plateia barulhenta alimentada por correntes, cortes de vídeo de zapzap e indignações fabricadas.

E, como toda encantadora de serpentes, ela não está sozinha. Sempre aparece alguém hipnotizado pelo chiado das fake news, pronto para bater palmas para o show, mesmo que o preço seja o risco à saúde das crianças.

Agora, resta saber: quem no poder público vai romper o feitiço. E quem vai continuar dançando ao som dessa flauta desafinada?

O relógio já está correndo

A recomendação do Ministério Público foi lida em alto e bom som na sessão da Câmara desta segunda-feira (16). Quem leu, pausadamente, foi o secretário Coronel Welington, que também não concorda com a obrigatoriedade da vacinação, mas que como militar sabe que leis são feitas para serem cumpridas e questionadas nas esferas competentes.

O documento da promotora está assinado, carimbado, respaldado na lei. E agora? É questão de tempo até alguém, na boca miúda, chamá-la de comunista, como já fazem com este blogueiro. Quando falta argumento, sempre sobra um rótulo.

Mas, na real, agora é hora de decidir se os órgãos públicos de Marechal Cândido Rondon, especialmente Prefeitura, Secretaria de Saúde e Câmara de Vereadores, vão cumprir o que é exigido pelo MP ou vão navegar no mar revolto do populismo negacionista.

O prazo é de dez dias. Mas o dilema já existe há anos: a quem agradar quando ciência e achismo batem de frente?

Prefeitura e Saúde: vão às escolas ou à retranca?

A grande cobrança do Ministério Público é clara: por que a Prefeitura não está usando as escolas como pontos de vacinação? É uma prática recomendada nacionalmente. Tem logística, tem estrutura, tem acesso.

Mas será que falta coragem política? Será que a Secretaria de Saúde está pronta para executar o que sabe que deve ser feito?

Durante a pandemia, Marechal Cândido Rondon teve uma secretária de Saúde que enfrentou a crise com firmeza, técnica e coragem. Marciane Specht não se acovardou diante da pressão. Ela não apenas seguiu as orientações das autoridades sanitárias, como bancou decisões difíceis, muitas vezes nadando contra a corrente da opinião pública inflamada. E o fez com resultados: a cidade conseguiu atravessar os piores momentos da pandemia com equilíbrio e controle.

Aliás, foi ela quem, sem titubear, bateu de frente com a mesma vereadora que hoje ainda tenta plantar dúvidas em terreno já bem lavrado pela ciência. Por isso, acredito que ela manterá o perfil e responderá à altura de quem vem sendo cotada, inclusive, para virar chefe de regional de Saúde.

Câmara: palanque ou instituição?

É no Legislativo que a situação se mostra mais constrangedora. A recomendação do MP foi endereçada à Câmara como instituição, mas ali dentro, foi recebida por uma vereadora como afronta ideológica.

Tania Maion, fiel ao seu roteiro, aproveitou a tribuna para reforçar sua cruzada contra a obrigatoriedade da vacina, munida de decisões judiciais fora de contexto e argumentos que desafiam qualquer lógica sanitária, como se o plenário fosse um tribunal paralelo, onde a ciência precisa pedir licença para entrar.

Fernando Nègre (PT) teve uma reação firme: “Estamos passando vergonha mais uma vez.” Uma frase simples, mas que escancarou o incômodo de quem ainda enxerga a responsabilidade coletiva no meio da névoa do negacionismo. Os demais vereadores, simplesmente calaram, talvez com medo da opinião pública prostituída pela desinformação.

Resta saber agora qual será a resposta oficial da Câmara. Porque ela dirá muito sobre a instituição: se ainda se pretende casa de leis ou se se tornou palco permanente para discursos que colocam vidas em risco, especialmente as das crianças, que não têm microfone, voto, nem tribuna para se defender.

A encruzilhada dos próximos dias

As autoridades têm três caminhos:

  • Cumprir a recomendação — com ações efetivas de vacinação e campanhas educativas, ainda que isso desagrade uma minoria barulhenta.
  • Ignorar a recomendação — e abrir as portas para ações judiciais, que podem atingir diretamente os gestores e parlamentares.
  • Responder com meias palavras — apostando que o MP vai se satisfazer com promessas vagas e relatórios sem impacto real.

Seja qual for a escolha, ela virá com consequências. E todas estarão sendo observadas, pela promotoria, pela imprensa responsável e por quem ainda acredita que criança deve ser protegida com mais do que palavras bonitas.

Enquanto algumas lideranças decidem se preferem agradar grupos de Facebook ou seguir a legislação, as crianças seguem vulneráveis. Porque aqui, em Marechal Cândido Rondon, vacinar virou ato político. E proteger a infância, um teste de coragem.

10 Replies to “MP cobra ação e cidade decide entre ciência e negacionismo

  1. Que presente nos dá, Jadir, com este texto que ficou ainda melhor com o comentário em ‘caixa alta’ que veio logo em seguida.
    Sim, nossos representantes estão diante de uma escolha que pode nos encaminhar ao negacionismo ou à ciência. Melhor dizendo: entre a vida e a morte, a paz e a guerra.
    Se fosse na ditadura, a escolha já estaria feita e o debate não seria disponibilizado.
    Eu era jovem no período da ditadura e a vacinação era com pistola em praça pública.
    Ninguém pediu se queria ou não.
    Simplesmente foi feito.
    Agora chegou a oportunidade de mostrar que a democracia serve para o debate, inclusive entre a verdade e a mentira.
    Lembrem-se de que, quando um malvado encontra doze idiotas, formam-se ali, rapidamente, treze malvados.

  2. ✓ VACINA PARA (todos) OS DESINFORMADOS.
    ✓ Os desafinados, desatinados e desativados (mas, não desavisados) da política ordeira (de lei). Qual a bactéria que se infiltrou na política e cultura brasileira — para termos no Brasil essas pragas da desinformação, das fake news? E, muitos dos ditos “representantes” do povo calados e colados na sua insignificância deletéria e agora delatada pelo MP.

  3. Sim, Marechal Cândido Rondon (que é o nome correto de nossa cidade) também tem, assim como no STF, “m”.
    Especialmente o “m” de Maturidade Emocional, Manejo das Emoções, “m” de, quando necessário, Mandar à Merda estas figuras que não tem a menor ideia do que é ser um real patriota.
    Fique bem, Maluco Patriotário!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *