A polêmica que agitou a rede municipal de ensino de Marechal Cândido Rondon desde ontem (09) recebeu uma resposta oficial no final da manhã de hoje (11). Em vídeo, a secretária de Educação, Maria Claudete Kozerski, e a nutricionista da prefeitura, Jaciara Reis, esclareceram suas posições sobre a proibição da venda de certos alimentos dentro das escolas – como refrigerantes, frituras e pipoca – que culminou, inclusive, no cancelamento da tradicional “Noite de Páscoa” da Escola Bento Munhoz da Rocha.

Segundo elas, não se trata de um capricho individual, tampouco de uma ação repentina. “Essa legislação não é nova”, disse a secretária Claudete. “A má interpretação da lei é que está causando esse desconforto. A prefeitura está apenas cumprindo as normas nacionais.”

A nutricionista Jaciara, por sua vez, foi mais enfática. Disse que Marechal serve cerca de 10 mil refeições por dia, qualificando o sistema como o “maior restaurante do município”. Argumentou que segue a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e todas as resoluções e decretos que regem o tema. Segundo ela, “mesmo que eu não concorde com alguma lei, se ela se tornou legislação, eu tenho que seguir”.

Ela também deixou claro que a orientação vale apenas para alimentos dentro do ambiente escolar: “Se o evento for fora da escola, não tem problema. A venda de pasteis, refrigerantes e outras guloseimas pode acontecer fora, sem interferência da nutricionista”.

Jaciara ainda rebateu críticas dizendo que jamais mandou cancelar qualquer festa escolar e que tem sido injustamente responsabilizada. “Será que eu devo ser punida por fazer o que é certo?”, questionou​.

Veja o vídeo publicado nos canais oficiais do Município:

Apenas a ponta do iceberg

É inegável que a explicação técnica da secretária Maria Claudete e da nutricionista Jaciara está bem embasada. A legislação existe, deve ser seguida e, sim, proteger a saúde alimentar das crianças é uma missão nobre.

No entanto, quando se ignora o contexto real vivido dentro das escolas municipais, a rigidez se transforma em ruído – e é exatamente isso que aconteceu. Quando o clima já está quente, qualquer faísca vira incêndio. Em um sistema pressionado pela falta de estrutura, valorização e diálogo, até uma recomendação técnica pode se tornar estopim para uma crise.

Vamos aos fatos: as escolas organizam eventos com venda de alimentos não por vaidade ou capricho, mas porque precisam. Esses recursos arrecadados são usados para reparar lousas, comprar material, fazer pequenas reformas – demandas básicas que, convenhamos, deveriam ser de inteira responsabilidade da Prefeitura.

Se for para levar a lei “ao pé da letra”, então que se leve também a sério o dever do Município em garantir infraestrutura decente e a valorização dos profissionais da educação. Não se pode cobrar cumprimento rigoroso da norma em um ambiente que, por falta de apoio institucional, se sustenta graças à criatividade e à resiliência dos educadores e dos pais dos alunos.

Sobre Jaciara, vale reconhecer: seu trabalho como nutricionista é técnico, sua missão é proteger as crianças – e isso ela tenta fazer com zelo e dentro do que determina a lei. É injusto condená-la por isso. Mas talvez falte ali o tempero do bom diálogo. A comunicação dura, seca e muitas vezes unilateral acaba gerando atritos desnecessários. Num ambiente escolar, empatia também alimenta – e muito.

Mas, o desgaste atual não nasce da orientação nutricional, mas sim do abandono silencioso do poder público. E não podemos jogar toda a culpa na atual gestão, que acabou de assumir. Mas hoje é ela que está no comando, responde pela área e precisa começar de agir. Chega de inércia. As reclamações e denúncias que recebo da área no Blog são quase que diárias. Hora de uma escola, hora de outra.

Além disso, a categoria dos professores segue à espera do pagamento do piso nacional, enquanto cuida, educa, improvisa e, muitas vezes, se vê obrigada a vender cachorro-quente para consertar uma lousa quebrada. Isso não é só injusto – é revoltante.

Portanto, a polêmica é só a pontinha visível de um problema muito maior: a Prefeitura precisa parar de empurrar responsabilidades para dentro dos portões das escolas ou para as gestões anteriores e começar, de fato, a fazer a sua parte. Porque se é lei que querem seguir à risca, então que seja para todos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *