Na noite de terça-feira (29), um recado silencioso, porém estrondoso, ecoou dentro e fora da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon:

“Plano de Governo Backes e Sauer – Implantar e manter o Piso Nacional Salarial para todos os professores. Pg 03”.

O cartaz segurado por uma professora, no meio de um plenário lotado, era mais do que um lembrete – era uma cobrança pública ao prefeito Adriano Backes e seu vice Vanderlei Sauer. Uma cobrança escrita, assinada e distribuída pela própria campanha da dupla que hoje comanda o Executivo.

A categoria negocia com a administração municipal a adequação do salário base do magistério municipal ao piso nacional da educação básica, atualmente fixado em R$ 4.867,77.

Com o plenário lotado muitas pessoas acompanharam a audiência pública do lado de fora através de um telão

Ausência sentida

Enquanto professores seguravam faixas e cartazes e pediam apenas o cumprimento da lei e da palavra empenhada, o prefeito justificava sua ausência por “compromissos previamente agendados”. O vice-prefeito também não apareceu. Nenhum dos dois enviou sequer um representante do setor financeiro ou jurídico da prefeitura.

A maior audiência pública do ano, sobre um tema central da educação, foi tratada com indiferença pelo alto escalão do governo municipal.

Coragem solitária

Quem teve que segurar a bronca sozinha foi a secretária de Educação, Maria Claudete Kozerski. Com equilíbrio e firmeza, ela encarou a plateia cheia, ouviu críticas, reconheceu a defasagem de 21% nos salários e explicou que os estudos estão em andamento.

Sua presença foi, ao mesmo tempo, um ato de coragem pessoal e um constrangimento para a administração, que preferiu o silêncio ao diálogo.

Sozinha a secretária Maria Claudete teve que ouvir as muitas críticas sobre a Educação

Vozes firmes

A audiência foi marcada por falas embasadas e respeitosas. O presidente do Sinsemar, Fernando Hübner, apresentou números: o impacto da correção seria de cerca de R$ 10 milhões por ano – viável, diante de uma arrecadação de R$ 391 milhões.

A APP Sindicato, através da manifestação da professora Soeli Gonçalves, denunciou a manobra de usar complementação salarial para mascarar o não cumprimento do piso como base.

Direitos suprimidos

Professores lembraram que o plano de carreira aprovado pela categoria foi alterado pelo Executivo antes de ser enviado à Câmara. Um artigo essencial foi simplesmente suprimido.

Ou seja: além de ignorar a lei federal, a gestão municipal rompeu com um acordo construído em assembleia democrática.

Herança ignorada

Durante a audiência, ficou evidente que o problema do não pagamento integral do piso não começou com a atual administração. A prática de ignorar o plano de carreira, usar complementações e adiar decisões vem da gestão anterior, do ex-prefeito Marcio Rauber.

No entanto, isso não exime Backes e Sauer. Passados quatro meses de mandato — e com a promessa de valorização impressa em seu plano de governo — o mínimo esperado era uma proposta concreta ou um cronograma definido. Alegar que o problema é antigo, sem apresentar solução, é repetir os erros do passado.

Suporte da Câmara

Um total de 10 vereadores prestigiaram a audiência pública. Faltaram apenas os vereadores Gordinho do Suco, Tania Maion e Carlinhos Silva.

O vereador Fernando Nègre, que presidiu a audiência pública, até tentou justificar algumas ausências e enaltecer o comprometimento dos vereadores com a causa, mas não conseguir evitar algumas vaias da plateia em sinal de protesto aos faltosos.

Contudo, os vereadores presentes foram unânimes em manifestar apoio aos professores. Alguns cobraram que o Executivo dê prazos, outros pediram transparência. Mas todos concordaram: o piso precisa ser pago.

Ficou claro que o Parlamento está pronto para votar. Falta o Executivo apresentar o projeto – o que, até agora, não aconteceu.

A audiência foi conduzida pela Comissão de Educação presidida pelo vereador Fernando Nègre

Realidade amarga

Enquanto isso, professores abandonam Marechal Cândido Rondon em busca de valorização em municípios vizinhos. A evasão de profissionais e a precarização das escolas escancaram o que já não dá para esconder: a educação está adoecendo.

Fim da paciência

A audiência pública não resolveu o problema, mas deixou um recado claro:
não há mais espaço para promessas sem ação.

A omissão de Backes e Sauer foi notada por cada pessoa presente e dos picos com mais de 200 que acompanharam pela transmissão ao vivo pelo YouTube.

E o que está em jogo não é apenas o cumprimento de uma lei – é o cumprimento de uma promessa assinada na página 03 do plano de governo. E agora cobrada, ao vivo, com cartaz, microfone e indignação.

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