Após a repercussão do artigo sobre a insatisfação de professores com a Secretaria de Educação de Marechal Cândido Rondon, novos relatos indicam que os problemas enfrentados pela rede municipal não são recentes.
Segundo docentes que entraram em contato com o Blog do Jadir após a publicação da primeira nota, dificuldades como a falta de professores, sobrecarga de trabalho e desvalorização da categoria vêm se agravando há anos e são reflexo de medidas tomadas na gestão anterior, quando Fernando Volpato era o secretário.
O Blog também recebeu prints de um grupo de whatsapp dos professores, onde o debate está intenso.
Mudanças no plano de carreira
Uma professora com 25 anos de experiência na rede municipal afirmou que o desgaste e a desvalorização do magistério não começaram agora, mas vêm se intensificando ao longo dos últimos oito anos. “Nunca fomos tão desvalorizados quanto no último governo”, disse.
Ela destacou que uma das principais causas do problema atual foi uma decisão tomada durante a revisão do plano de carreira dos docentes, quando a remuneração das aulas extraordinárias e da jornada suplementar passou a ser calculada com base no salário inicial do professor, e não no vencimento do profissional que assume a carga horária adicional.
Essa mudança resultou na falta de interesse dos docentes em assumir essas aulas, agravando a escassez de profissionais e aumentando a sobrecarga de quem permanece em sala de aula. “Claro que o resultado seria a falta de professor e, por consequência, a sobrecarga de alguns”, afirmou a educadora.
Herança da gestão anterior
Outro problema que teria se originado na administração passada envolve os atrasos nas contratações de professores e na entrega de uniformes e materiais escolares. De acordo com uma fonte que se manifestou, esses transtornos foram herdados pela atual gestão. “Estão querendo atribuir a ela [Maria Claudete] um problema de longa data. Ela está no cargo há dois meses, com muita boa vontade”, defendeu.
A mesma fonte também citou que um grupo de docentes mais alinhado à antiga administração tem se mostrado insatisfeito com a mudança de gestão e apontou que os atrasos registrados neste início de ano não são culpa exclusiva da atual secretária. “Tudo que ocorreu até agora é fruto da gestão anterior. Atraso na contratação de professores, atraso nos uniformes, entre outros problemas. Provavelmente, não por maldade, mas por morosidade”, afirmou.
“É uma minoria que desaprova o trabalho da nova secretária. Muitos desses por questões pessoais. Convivo com vários professores da rede e eles apostam em grandes mudanças com Maria Claudete à frente da pasta”, disse uma professora.
Debate no grupo de Whats
Além das manifestações individuais, um intenso debate tem ocorrido no grupo de WhatsApp Respeito ao Professor, onde educadores discutem a atual situação da rede municipal. Prints das conversas recebidas pelo Blog revelam diferentes visões sobre a gestão da secretária Maria Claudete Kozerski, o pagamento do piso salarial e a responsabilidade da administração passada.
Enquanto alguns profissionais defendem a nova gestão e argumentam que os problemas são reflexo de decisões da administração anterior, outros cobram respostas mais rápidas e efetivas da atual Secretaria de Educação. “A falta de professores ficou bem clara, não tem quem chamar. Está difícil para todo mundo, mas ficar procurando culpados não vai resolver”, escreveu uma professora.
A insatisfação com a sobrecarga de trabalho também foi abordada no grupo. “Estamos no começo do ano letivo, imagina quando chegar em junho? Valorizar os professores é dialogar e atender a demanda existente”, alertou uma docente.
Outro ponto de debate gira em torno do pagamento do piso salarial dos professores. Alguns profissionais comemoraram a decisão do prefeito Adriano Backes de efetuar o pagamento em 2025, mas destacaram que ainda há defasagem salarial herdada da gestão anterior. “Já provamos por meio da análise do impacto financeiro que é possível pagar”, argumentou uma professora.
O grupo também tem sido utilizado para organizar possíveis mobilizações e reivindicações. Educadores discutem a realização de uma assembleia com o sindicato da categoria para debater a situação e cobrar soluções da Secretaria de Educação e do Executivo. “Se não houver diálogo, tomaremos novas iniciativas e deliberações”, afirmou um dos participantes.
O que diz a secretária?
Em entrevista ontem ao jornal O Presente, Maria Claudete Kozerski reconheceu as dificuldades enfrentadas pela Educação municipal, mas afirmou que a equipe está trabalhando para resolver os problemas gradativamente. Segundo ela, o início do ano letivo foi mais conturbado devido à burocracia no processo de contratação de professores e à necessidade de seguir prazos e normas legais para reposição de profissionais.
Ela também destacou que a falta de professores não é um problema exclusivo de Marechal Cândido Rondon. “Fizemos um chamamento de 50 professores, compareceram 20. Alguns desistiram porque não queriam atuar em determinadas escolas. Na área de Educação Física e Inglês, por exemplo, não tivemos comparecimento de nenhum profissional, mesmo havendo candidatos inscritos”, explicou.
Sobre os atrasos na entrega de uniformes, a secretária afirmou que o problema também foi herdado da gestão anterior, já que a licitação não foi realizada no ano passado. Além disso, a empresa que venceu a concorrência apresentou um lote de uniformes com defeito, o que obrigou a Prefeitura a recorrer à segunda colocada, atrasando ainda mais a distribuição.
Próximos passos
A Secretaria de Educação reforçou que está adotando medidas para minimizar os impactos desses problemas, como antecipar os processos de planejamento e chamamento de professores para que, em 2026, as escolas não enfrentem o mesmo cenário do início deste ano letivo.