Após a circulação de um vídeo que expôs um aparente caso de “fura-fila” na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Marechal Cândido Rondon, o debate público em torno do caso tomou novos rumos. Conversas reservadas e informações adicionais vieram à tona, revelando nuances mais profundas sobre as práticas internas no atendimento na saúde pública rondonense, em especial na UPA.
A partir de fontes confidenciais, que optaram por permanecer anônimas, o Blog foi informado, com riqueza de detalhes, de que a situação registrada no vídeo não é um evento isolado. Ao contrário, indica-se uma prática corriqueira, onde alguns privilegiados são priorizados no atendimento por indicações diretas da secretária de Saúde, Marciane Specht e até de outras figuras públicas, como vereadores, por exemplo, desrespeitando o protocolo padrão e a fila de espera estabelecida pela triagem.
Parece um caso típico da prática de tráfico de influência.
Linha direta
Informações apontam que funcionários de confiança na recepção e até mesmo alguns profissionais de saúde da UPA recebem instruções para encaminhar determinadas pessoas diretamente ao atendimento, algumas vezes especificando até qual o médico que deverá realizar o atendimento.
Para repassar estas ordens, Marciane manteria no interior da UPA um telefone com uma linha direta. “Todos os médicos já receberam recado do tipo ‘vem aí fulano de tal, que a secretária mandou’”, disse uma das fontes.
Essa prática se estendeu ao ponto de beneficiar pessoalmente a quem detém o poder de influência dentro da unidade, como é o caso da secretária de Saúde, que teria utilizado seu cargo para buscar priorizar o atendimento de sua própria filha no ano passado.
“Estava com crise de ansiedade. Ela até disponibilizou um leito pra ela, num dia em que a UPA estava completamente lotada”, revelou a fonte. “Inclusive neste dia ela não conseguiu o atendimento da filha, porque o caos era tão grande, e tinha tanta emergência, que ela cansou de esperar no leito e foi embora pra casa sem o atendimento”, acrescentou.
Investigação mais ampla
Quando o caso do vídeo veio à tona, a secretária Marciane foi registrar um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia, dizendo que seu nome foi usado indevidamente.
Mais tarde, o prefeito Marcio Rauber foi ágil na resposta. Ainda pela manhã postou um vídeo nas redes sociais, dizendo que exitem protocolos no atendimento que devem ser seguidos e informando de que estava determinando a abertura de um processo administrativo para apurar o caso
Aliás, a intervenção de autoridades municipais para apuração dos fatos, apesar de ser um passo na direção correta, não é suficiente. O cerne da questão vai além da simples apuração de um caso isolado. Ela reflete sobre a integridade e transparência dos processos que regem o acesso à saúde pública.
A saúde é um direito universal e deve ser tratada como tal. Qualquer ameaça à equidade de acesso é uma ameaça à própria essência do direito à saúde. Por isso carece de uma investigação mais ampla. A comunidade espera e merece não menos do que isso.