O cenário é desolador. Mais de 4.000 mortos em apenas 12 dias de conflitos entre Israel e o grupo terrorista Hamas. A maioria é civil: 3.000 palestinos e 1.400 israelenses perderam a vida. Gaza enfrenta uma crise sem precedentes. E é neste contexto de desespero e luto que me surge um questionamento perturbador.
Vi hoje, em grupos e redes sociais, gente que se diz ‘de Deus’ celebrando o veto americano à proposta brasileira para um cessar-fogo no Oriente Médio. É o mesmo que apoiar a continuidade da guerra e da morte de civis inocentes.
A proposta apresentada pelo Brasil teve a aprovação de 12 das 15 delegações. Duas se abstiveram e apenas os Estados Unidos foram contra. Provavelmente a proposta não era ruim e os motivos do veto americano a gente conhece bem.
Pode ser tentador para os críticos do governo atual enxergar o veto americano como uma vitória moral ou política sobre o presidente Lula. No entanto, essa atitude, além de míope, também é muito desumana, dado o cenário catastrófico em que o veto ocorre. A divisão política doméstica não deveria ofuscar a necessidade de uma postura humanitária unificada.
Em momentos como este, em que vidas estão sendo perdidas e famílias destroçadas, a última coisa que deveríamos fazer é permitir que a polarização política interfira em nossa compaixão e humanidade. Celebrar um veto que perpetua um conflito sangrento é, em última análise, fechar os olhos para a tragédia humana que se desenrola diante de nós. O debate, nesse caso, deveria ser regido por princípios humanitários, não políticos.
Mas, depois do que vi hoje, chego à triste conclusão de que não é apenas a reputação do Brasil no cenário mundial que está em jogo, mas também o tecido cada vez mais frágil da nossa própria sociedade.
Para quem sofreu os reflexos do Holocausto nazista, fica parecendo não ter aprendido nada vim àquele genocídio — eis que aplicam procedimentos similares ao povo palestino.
Matam Jesus novamente.