A entrega do título de Cidadão Honorário ao doutor Dietrich “Hippi” Seyboth, realizada nesta quarta-feira (29), tinha tudo para ser uma das cerimônias mais simbólicas do ano em Marechal Cândido Rondon. Aliás, não tinha, foi. Um momento de reconhecimento a um homem que dedicou meio século de sua vida à medicina e à comunidade.
Mas, politicamente, a ausência do prefeito Adriano Backes e até do vice Vanderlei Sauer acabou roubando o protagonismo. Não pela nobreza do gesto, e sim pela falta dele.
Mesmo sem estar presente fisicamente, acompanhei à distância toda a cerimônia, e nos bastidores foi impossível não perceber a repercussão imediata da ausência do chefe do Executivo. O comentário corria solto entre vereadores, ex-gestores e lideranças comunitárias: “como é que o prefeito confirma presença e não aparece?”.
Um vazio na mesa
O prefeito, que havia confirmado presença, optou por enviar o secretário de Administração, Valmir Monteiro, para representá-lo. Que fosse ao menos o secretário de Saúde . Haveria, ao menos, uma conexão com a trajetória do homenageado. Valmir não quis sequer falar em nome do Executivo, tamanho o constrangimento.
A escolha de um representante burocrático para um momento de significado humano e comunitário soou como um tapa de luva… mas sem a luva.
Quando política fala mais alto
O título concedido ao doutor Hippi foi proposto lá em 2023, na legislatura passada, pelos então vereadores Arion Nasihgil e Juca, ambos opositores políticos de Adriano Backes. Arion, vale lembrar, foi adversário direto do prefeito na eleição de 2024, e Juca segue atuando na Câmara como uma das vozes mais críticas da atual administração.
Coincidência ou conveniência, a ausência do prefeito e do vice justamente numa homenagem proposta por dois adversários soou, no mínimo, malcriada. E política ou não, o gesto destoou do simbolismo do momento.
O gesto de Valdirzinho
Quem percebeu o constrangimento foi o presidente da Câmara, Valdirzinho Sachser, que, por instinto político (ou ironia mesmo), chamou o ex-prefeito Marcio Rauber para compor a mesa de honra. Claro que chamou também o irmão do homenageado e também ex-prefeito, Dieter Seyboth. Mas, o recado foi claro.
Tudo fora do protocolo, mas dentro do contexto. Foi como se dissesse: “se o atual não veio, o ex está presente”. E estava. A plateia entendeu, o clima político se instalou, e a ausência do Executivo ecoou mais do que qualquer discurso.
Prioridades invertidas
Enquanto isso, o prefeito participava de outro evento no Centro de Eventos, alusivo aos 50 anos da Assemar (Inicialmente havia divulgado que era alusivo ao Dia do Servidor Público). Ninguém discute a importância da data, mas será que não havia tempo para uma breve passagem pela solenidade da Câmara?
A homenagem ao doutor Hippi começou antes e teria exigido, no máximo, uma hora de deferência. Preferiu-se a festa ao tributo.
Mais curioso ainda é que quem representou o prefeito na cerimônia foi justamente Valmir Monteiro, secretário de Administração. O mesmo que, na prática, tinha tudo a ver com o evento ligado aos servidores públicos, já que o setor de Recursos Humanos está diretamente sob sua pasta.
Ou seja, o prefeito inverteu as lógicas: mandou o homem certo para o evento errado e ficou com o errado no lugar certo.
Respeito não se terceiriza
Homenagens como essa não são apenas um ato do Legislativo. Elas representam a cidade. E o Executivo é parte disso. Ao se ausentar, o prefeito transmitiu uma mensagem que não precisa de microfone: a de que, quando a política fala mais alto que o respeito, quem perde é a comunidade.
Mas é preciso lembrar: o prefeito não é uma pessoa, é uma instituição.
E instituições não podem se dar ao luxo das vaidades pessoais. Estão acima dos humores, das vaidades, das conveniências e dos embates momentâneos.
Quando o ocupante do cargo se deixa dominar por isso, quem se apequena não é o homem, é o posto que ele representa.
