Foi apenas uma foto. Mas, para quem acompanha os bastidores da política rondonense, o clique publicado nas suas redes sociais por Gilmar Dattein, secretário de Governo e braço direito do prefeito Adriano Backes, na noite desta quarta-feira (25), tem muito mais a dizer do que o olhar desatento pode captar. E para quem entende os códigos da política, a imagem é quase uma confissão.
No centro da foto, o deputado estadual Hussein Bakri, líder do governo Ratinho Jr. e verdadeiro “dono do passe” político do PSD no Paraná. Ao redor dele, em posição de destaque, o prefeito Backes (PP) e o vice Sauer (União Brasil). E nenhum, absolutamente nenhum vereador das duas siglas que hoje sustentam a administração municipal ou que apoiam Bakri. Estranho, não?!
Além de Bakri, Backes, Sauer e Dattein, aparecem também o empresário Felipe Niedermeyer, do grupo Allmayer, e Neri Wagner, diretor de Turismo, braço direito do secretário Claudinho Koehler (PP), presidente do PP em Rondon. Felipe, é bom lembrar, foi agraciado com título de cidadão honorário concedido por quem? Claudinho.
Um time seleto. Silencioso. Afinado. E cheio de não ditos.
Nos bastidores, nenhuma fonte quis confirmar o motivo da conversa.
Ouso apostar: a pauta foi o futuro do PSD em Marechal Cândido Rondon. Quem vai assumir o partido?
Hoje, o PSD local está nas mãos de Anderson Loffi, ex-diretor do Saae e aliado do ex-prefeito Marcio Rauber (União), desafeto de Backes. E todo mundo sabe que o deputado Hussein Bakri, como mais votado na cidade em 2022, coloca quem ele quiser na presidência do partido. Quem assume? Felipe? Sauer? Gilmar? O próprio prefeito? Uia!
União e PP
Vale lembrar: PP e União Brasil, os dois principais partidos que deram sustentação para a eleição de Backes e Sauer estão formando uma federação partidária. Uma união forçada, que no Paraná virou campo de disputa entre Ricardo Barros (PP) e Felipe Francischini (União). Um quer manter as rédeas, o outro quer entregar a chave para o governador Ratinho Jr.
Enquanto o embate acontece lá em cima, os prefeitos aqui embaixo se mexem. No Paraná inteiro, o PP perde lideranças municipais por causa das imposições de Barros.
Em Marechal Cândido Rondon, o clima é de desconfiança e a foto com Bakri parece dizer que Backes não vai querer disputar com Marcio Rauber o comando da federação tendo um partido como o PSD de portas abertas. Pra que?
E os vereadores?
Se Backes e Sauer migrarem mesmo para o PSD, a federação PP-União perde sua maior vitrine na cidade. E os vereadores que hoje defendem o governo? Valdirzinho, Coronel, Marciane, Claudinho, Juliano, Rafael, Gordinho, além dos suplentes Carlinhos e Verde… vão acompanhar? Vão resistir?
A fidelidade partidária impede que eles mudem de legenda fora da janela. Mas prefeito e vice não têm esse problema. Podem mudar quando quiserem, como quiserem. E se forem, levam a caneta, o orçamento e a máquina administrativa junto. E quem fica, que lute.
E Sperafico? Vai sobrar no churrasco?
Outra pergunta ecoa em tom quase constrangido nos bastidores: e o deputado federal Dilceu Sperafico, onde entra nessa história?
Principal liderança regional do PP, Sperafico sempre sonhou em ver seu partido finalmente comandando a prefeitura de Marechal Cândido Rondon. E em 2024, com o empenho direto de Claudinho Koehler e do próprio Adriano Backes, o sonho se realizou. O trilho foi longo, suado, alinhavado voto a voto. E parecia que o PP, depois de anos no coadjuvante, tinha finalmente seu protagonista local.
Agora, seis meses depois da posse, a sinalização é de desembarque. Será que Backes foi prefeito do PP só por meio ano? Vai trocar a sigla antes mesmo da entrega da primeira obra?
Mais ainda: Sperafico trabalha nos bastidores para lançar seu filho Natan como candidato a deputado estadual em 2026. Com que palanque ele vai contar em Marechal, se seu prefeito resolver “vestir a camiseta do PSD”?
Outras fotos, também publicadas em redes sociais, mostram Sperafico reunido com Ratinho Jr no início da semana passada. Eu mesmo encontrei ele no aeroporto de Cascavel afirmando que iria pra Curitiba e não pra Brasília naquela segunda. Será que já estava prevendo toda uma situação?
O nome disso é movimento
O PSD não teve nem chapa de vereador em 2024. E agora pode, de uma só vez, herdar a prefeitura, a vice e metade da estrutura de poder da cidade. Tudo isso sem alarde, sem coletiva, sem estardalhaço. Apenas com uma foto. Publicada discretamente. Na quarta à noite.
Claro, tudo pode ter sido só um encontro casual, com cafezinho, bolachinha e conversas sobre o clima. Tá frio, né! Será que chove?
Pode. Mas o timing, os rostos, os sorrisos contidos… entregam. Tem algo grande se mexendo. E como dizia Tancredo: “em política, o que parece é”.
No Brasil “até cavalo voa”, como teria dito o ex-presidente Tancredo Neves. Assim, fica-se a imaginar o que ocorre onde se localiza manada dispersa com mais de um líder buscando melhor gramado.