Em 1988, o então governador Alvaro Dias entrou para a história com um episódio que marcou o Paraná: a cavalaria da Polícia Militar avançando contra professores em greve, na Praça Nossa Senhora de Salette, em Curitiba. O caso virou símbolo do desrespeito à educação e aos servidores públicos.
Corta para 2025. Em Marechal Cândido Rondon, o vice-prefeito e policial militar da reserva Vanderlei Sauer, conhecido politicamente como Soldado Sauer, dispara um áudio de WhatsApp que o governo “gostaria de pagar mais”, mas não pode, que o blog é “tendencioso” e que os professores não deveriam reclamar tanto.
Ouça o áudio que se espalhou igual rastilho de pólvora:
Não há cavalos nas ruas desta vez. Mas há uma tropa discursiva tentando deslegitimar uma categoria que cobra o cumprimento de uma lei.
Professores rebatem
Nos bastidores, o áudio do vice caiu como um coice. Vários professores, sob anonimato, voltaram a procurar o blog para reagir com indignação e dados. Alguns dos trechos enviados:
“Que atitude feia desse vice-prefeito, querer jogar a população contra os professores. Acham que somos burros.”
“Nem apareceram na audiência pública. E alguém precisa explicar pra ele que não se mistura folha de pagamento da saúde com a folha da educação.”
“Pagar o piso vai falir o município? É sério isso?”
E ainda enviaram jurisprudência do Ministério Público do Paraná, deixando claro que o piso deve, sim, ser aplicado na base da carreira, com efeito cascata nas progressões e gratificações, conforme a Lei 11.738/2008.
Piso não é gratificação
Outro ponto reforçado nas mensagens: remuneração total não é piso.
“A complementação que o município paga não é o piso. Piso é o valor mínimo na base da carreira, não o salário final depois de anos de estudos e qualificações.”
“O plano de carreira existe para reconhecer méritos. O que o município faz é igualar o piso com a remuneração, o que fere a lógica da lei.”
Hoje, dizem, a base da tabela ainda está em R$ 2.012,08 para 20h, enquanto o valor legal seria pelo menos R$ 2.430,00.
Defesa do Blog
No áudio, o vice-prefeito Sauer afirma que o blog é “tendencioso e polêmico”.
Cabe aqui um esclarecimento direto:
Este blog é independente e não tem compromisso com governos, mas com fatos. Se os fatos desagradam, é sinal de que há algo a ser consertado — e não calado.
O que está sendo feito aqui é jornalismo: ouvir, apurar, confrontar versões e dar voz à população. Se isso for “tendencioso”, que seja para o lado da verdade.
Entre 1988 e 2025
Em 1988, foi o casco do cavalo. Em 2025, é o peso da burocracia, do silêncio e das desculpas técnicas.
A diferença é que os professores agora têm celulares, prints, áudios e acesso à lei. E não precisam fugir da praça — porque a praça também é virtual.
Fica a pergunta: a história vai se repetir ou vamos, enfim, ouvir e valorizar quem ensina?