A cerimônia de posse do novo secretário de Educação de Marechal Cândido Rondon, João Carlos Klein, nesta segunda-feira (26), foi muito mais litúrgica do que técnica e fugiu ao roteiro convencional do serviço público. O início do discurso do agora secretário mais parecia abertura de celebração religiosa: “Shalom a todos”, declarou, antes de invocar o Salmo 127 — “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham aqueles que edificam”.

A mensagem de fé foi extensa e permeou toda a fala. Em vez de um plano de ação para a pasta, o público ouviu invocações ao “Senhor dos Exércitos” e a recomendação para se pensar nas decisões com a pergunta: “Se Jesus tivesse a caneta que eu tenho na mão, como ele faria?”.

A cada menção divina, os “améns” vinham da plateia. A voz mais forte era da chefe de gabinete Lúcia Pletsch, que já circula pelos corredores da política com um apelido inusitado, mas cada vez mais citado nos bastidores: “benzedeira de gabinete”.

O compromisso que não veio

Nada contra a fé, pelo contrário. Mas diante de uma plateia formada por professores, vereadores, gestores públicos e imprensa, o esperado era um compromisso claro com políticas educacionais, não uma homilia de domingo. E nesse quesito, a posse deixou um vácuo.
O secretário foi cuidadoso ao evitar promessas, preferindo entregar à “vontade divina” o que, na prática, dependerá de muito planejamento e ação administrativa. A única garantia dada foi que “vamos trabalhar”.

Para os educadores e gestores presentes, ficou a expectativa de quando os primeiros passos práticos serão dados, agora, fora do púlpito.

O currículo de Klein impressiona: professor universitário, hipnoterapeuta sistêmico, palestrante, servidor público desde 2007 e ex-secretário de várias pastas. Ele tem uma bagagem vasta, que agora será testada na prática. Vamos ver se saberá transformar essa teoria multissensorial em gestão pública eficiente?

A bronca do prefeito e os recados embutidos

Já o prefeito Adriano Backes aproveitou o momento para passar recados diretos e indiretos. Em duas ocasiões, alfinetou o governo anterior: primeiro, ao sugerir que forças ocultas esvaziaram o concurso para professor de inglês; depois, ao lembrar que o projeto da nova creche no bairro São Lucas ficou “parado” durante o ano de 2024, quando Marcio Rauber ainda era o prefeito.

Também sobrou recado para os servidores, especialmente os comissionados que não estariam rendendo como esperado. Com tom firme, o prefeito disparou: “A porta da rua é a serventia da casa”. E todos sabem que ele não fala isso da boca pra fora, ele manda embora mesmo.

Estrutura escolar como meta

Se o novo secretário evitou promessas, o prefeito compensou. Backes disse que sua meta não é apenas pedagógica, mas estrutural. Apontou a precariedade de quadras, telhados e muros das escolas como prioridade da gestão.

“Não consigo olhar para a educação com o muro caindo”, afirmou, prometendo entregar ao final do mandato uma rede escolar “estruturada e respeitada”.

Agora é trabalho

A cerimônia terminou com entrega simbólica de documentos e anúncio da licitação do novo CMEI do bairro São Lucas — obra de mais de R$ 6 milhões.

Acabou o tempo de discursos, disse o novo secretário, observando que agora é o início do tempo de trabalho. Resta saber se a fé e a retórica darão lugar a planejamento e resultados — porque educação precisa mais de gestão do que de oração.

2 Replies to “Entre salmos e recados: a posse de João Klein na Secretaria de Educação

  1. “Não consigo olhar a educação com um muro caindo” mas com professores desvalorizados ele consegue? Estrutura física é importante sim mas quem alavanca a educação são os profissionais da educação.

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