Era uma tarde comum de abril de 1995 quando o radinho em casa me deu o alerta: “Notícia, notícia!”. Era Lincoln Leduc, na Rádio Difusora, confirmando a notícia largada em primeira mão instantes antes por Aírton Kraemer (irmão de Elton), na Educadora.

Notícia que mudaria os rumos daquela semana – e impactaria minha carreira: havia um sequestro em andamento na rua Paraná, 190, aqui mesmo, em Marechal Cândido Rondon. Larguei tudo e fui direto para lá.

Início da tarde de segunda feira 24 de abril ainda era pequeno o aparato policial que cercava a casa do sequestro

Primeira grande cobertura

Naquele tempo, eu era um jovem repórter do jornal O Presente, ainda nos primeiros passos do jornalismo, mas já com uma vontade enorme de contar histórias. Aquela seria a minha primeira grande cobertura.

Dormi no carro por várias noites, estacionado nas proximidades da casa do empresário Roni Martin. Outros jornalistas passavam a noite em berços improvisados na calçada (foto de destaque).

Eu revelava os filmes e as fotos no laboratório do jornal, escrevia meus textos na velha Olivetti, deixava-os para o editor Hugo Balko e voltava correndo para a rua.

Estava no início da carreira mas só saía do local para ir ao jornal revelar as fotos e escrever a reportagem

O cerco que parou o Paraná

A cada dia, o clima ficava mais tenso. A cidade parou. O Paraná parou. O Brasil assistia atônito, especialmente graças à transmissão ao vivo feita pela TV Tarobá de Cascavel, única emissora de TV presente desde o início até o desfecho. As rádios Educadora e Difusora, de Marechal, também acompanharam tudo ao vivo.

Foram cinco dias de medo, esperança e orações. Eu conhecia parte dos envolvidos: Leina, Roni, Elton. Isso tornava tudo ainda mais angustiante.

Naquela casa estavam sete reféns, entre eles duas crianças de 7 anos uma bebê de apenas nove meses. Do outro lado, três sequestradores frios, experientes, foragidos da Justiça, com dezenas de assaltos e crimes nas costas. Uma quadrilha profissional.

Os três sequestradores os irmãos Pedro e Isalino Beltramin e Reginaldo Monteiro

Cobertura sem tecnologia

A cada novo dia mais perguntas e menos respostas. O que eles queriam? Quando tudo acabaria? A rua virou reduto de repórteres, policiais, moradores aflitos. O som das sirenes, o motor estacionário do Coelho, o vai e vem de carros, o rufar de tambores. Era um barulho constante, dia e noite para pressionar os marginais.

Mas também tinha o silêncio. Aquele silêncio pesado que anunciava o perigo.

A história não é feita apenas de datas e nomes mas de pessoas sentimentos e coragem

Naquela época, não havia WhatsApp, redes sociais ou transmissão em HD. Tinha era coragem, apuração e instinto. E foi assim que, junto de tantos colegas da imprensa, documentei o sequestro mais longo e dramático da história do Paraná.

Delegado Ricardo Képes Noronha que liderou toda a operação

Lembro bem e minhas fotos registram alguns destes colegas: Lincoln Leduc (in memorian), Miguel Fernandes Reichert (in memorian), Arnaldo Santos, Airton Kraemer (este irmão de Elton, cunhado de Úrsula e tio dos dois meninos reféns), Paulo Nogueira, Régis Guerreiro, Lourival Neves Junior, Gelson Negrão, Sandro Dalpícolo, Jair Scarpato, entre muitos outros.

A cada novo dia mais perguntas e menos respostas O que eles queriam Quando tudo acabaria A rua virou reduto de repórteres policiais moradores aflitos

O desfecho de tirar o fôlego

Na manhã do sexto dia, a invasão aconteceu. Uma operação digna de filme, planejada nos mínimos detalhes.

Bombas, tiros, gritos. Três sequestradores mortos, uma refém baleada tentando proteger a filha. E, no fim, todos os demais reféns salvos.

Alívio os gêmeos Fabrício e Fabiano no Hospital Rondon logo pós o resgate

Memórias que não se apagam

Passadas três décadas, aquela semana ainda vive em mim. As fotos que fiz, os relatos que ouvi, os olhos marejados de quem sobreviveu. A memória desta cidade que, por cinco dias, deixou de ser apenas Marechal Cândido Rondon e virou manchete nacional.

A marquise do sobrado ainda em construção da Mecânica do Coelho virou plataforma de atiradores

Hoje, com a série especial produzida pela TV Tarobá, “123 Horas: O Sequestro que Parou o Paraná”, revivemos não apenas os fatos, mas também as emoções. Recomendo a todos que assistam, reflitam e nunca se esqueçam: a história não é feita apenas de datas e nomes, mas de pessoas, sentimentos e coragem.

Aquele abril de 1995 me ensinou muito. Sobre jornalismo. Sobre humanidade. Sobre a força de uma cidade inteira unida pela esperança.

A cidade deixou de ser apenas Marechal Cândido Rondon e virou manchete nacional

Confira os episódios da série

Confira os episódios da série “123 horas – O sequestro que parou o Paraná”, da TV Tarobá clicando nos links abaixo:

[Episódio 1 – A descoberta]

[Episódio 2 – As imagens que o Brasil viu]

[Episódio 3 – A estratégia]

[Episódio 4 – A decisão]

[Episódio 5 – 40 segundos]

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