Era uma tarde comum de abril de 1995 quando o radinho em casa me deu o alerta: “Notícia, notícia!”. Era Lincoln Leduc, na Rádio Difusora, confirmando a notícia largada em primeira mão instantes antes por Aírton Kraemer (irmão de Elton), na Educadora.
Notícia que mudaria os rumos daquela semana – e impactaria minha carreira: havia um sequestro em andamento na rua Paraná, 190, aqui mesmo, em Marechal Cândido Rondon. Larguei tudo e fui direto para lá.

Primeira grande cobertura
Naquele tempo, eu era um jovem repórter do jornal O Presente, ainda nos primeiros passos do jornalismo, mas já com uma vontade enorme de contar histórias. Aquela seria a minha primeira grande cobertura.
Dormi no carro por várias noites, estacionado nas proximidades da casa do empresário Roni Martin. Outros jornalistas passavam a noite em berços improvisados na calçada (foto de destaque).
Eu revelava os filmes e as fotos no laboratório do jornal, escrevia meus textos na velha Olivetti, deixava-os para o editor Hugo Balko e voltava correndo para a rua.

O cerco que parou o Paraná
A cada dia, o clima ficava mais tenso. A cidade parou. O Paraná parou. O Brasil assistia atônito, especialmente graças à transmissão ao vivo feita pela TV Tarobá de Cascavel, única emissora de TV presente desde o início até o desfecho. As rádios Educadora e Difusora, de Marechal, também acompanharam tudo ao vivo.
Foram cinco dias de medo, esperança e orações. Eu conhecia parte dos envolvidos: Leina, Roni, Elton. Isso tornava tudo ainda mais angustiante.
Naquela casa estavam sete reféns, entre eles duas crianças de 7 anos uma bebê de apenas nove meses. Do outro lado, três sequestradores frios, experientes, foragidos da Justiça, com dezenas de assaltos e crimes nas costas. Uma quadrilha profissional.

Cobertura sem tecnologia
A cada novo dia mais perguntas e menos respostas. O que eles queriam? Quando tudo acabaria? A rua virou reduto de repórteres, policiais, moradores aflitos. O som das sirenes, o motor estacionário do Coelho, o vai e vem de carros, o rufar de tambores. Era um barulho constante, dia e noite para pressionar os marginais.
Mas também tinha o silêncio. Aquele silêncio pesado que anunciava o perigo.

Naquela época, não havia WhatsApp, redes sociais ou transmissão em HD. Tinha era coragem, apuração e instinto. E foi assim que, junto de tantos colegas da imprensa, documentei o sequestro mais longo e dramático da história do Paraná.

Lembro bem e minhas fotos registram alguns destes colegas: Lincoln Leduc (in memorian), Miguel Fernandes Reichert (in memorian), Arnaldo Santos, Airton Kraemer (este irmão de Elton, cunhado de Úrsula e tio dos dois meninos reféns), Paulo Nogueira, Régis Guerreiro, Lourival Neves Junior, Gelson Negrão, Sandro Dalpícolo, Jair Scarpato, entre muitos outros.

O desfecho de tirar o fôlego
Na manhã do sexto dia, a invasão aconteceu. Uma operação digna de filme, planejada nos mínimos detalhes.
Bombas, tiros, gritos. Três sequestradores mortos, uma refém baleada tentando proteger a filha. E, no fim, todos os demais reféns salvos.

Memórias que não se apagam
Passadas três décadas, aquela semana ainda vive em mim. As fotos que fiz, os relatos que ouvi, os olhos marejados de quem sobreviveu. A memória desta cidade que, por cinco dias, deixou de ser apenas Marechal Cândido Rondon e virou manchete nacional.

Hoje, com a série especial produzida pela TV Tarobá, “123 Horas: O Sequestro que Parou o Paraná”, revivemos não apenas os fatos, mas também as emoções. Recomendo a todos que assistam, reflitam e nunca se esqueçam: a história não é feita apenas de datas e nomes, mas de pessoas, sentimentos e coragem.
Aquele abril de 1995 me ensinou muito. Sobre jornalismo. Sobre humanidade. Sobre a força de uma cidade inteira unida pela esperança.

Confira os episódios da série
Confira os episódios da série “123 horas – O sequestro que parou o Paraná”, da TV Tarobá clicando nos links abaixo: