A primeira vez que ouvi o nome Jorge Mario Bergoglio foi em março de 2013. Eu trabalhava na assessoria de imprensa da Prefeitura de Marechal Cândido Rondon e, como muitos naquele dia, parei diante da TV para acompanhar a fumaça branca que anunciava: Habemus Papam.
Não sou católico, mas desde aquele momento, simpatizei com o novo Papa. Havia algo em sua postura simples, no nome que escolheu — Francisco — e no jeito com que se apresentou ao mundo: sem trono, sem pompa, apenas um homem de branco pedindo orações.
Um Papa entre os homens
A escolha do primeiro pontífice latino-americano, argentino, com raízes no continente da desigualdade e da fé popular, já sinalizava mudança. Mas o que veio a seguir foi além do esperado. Ao longo de 12 anos de papado, Francisco se recusou a ser apenas o líder de uma instituição milenar. Ele quis — e conseguiu — ser ouvido como uma voz humana num mundo cada vez mais desumanizado.
O Papa que rezou sozinho
Vítima que fui da Covid-19, há uma imagem que me acompanha até hoje: o Papa sozinho, sob chuva, rezando diante de uma Praça de São Pedro completamente vazia. Aquela cena, em 2020, é talvez o maior símbolo espiritual e político de seu pontificado. Um homem frágil diante do silêncio do mundo. Mas firme em sua missão de consolar e orientar — mesmo sem público, mesmo sem aplausos.
O homem que ouviu os invisíveis
Francisco será lembrado por suas reformas, por abrir debates dentro da Igreja que pareciam intocáveis, por dar espaço às periferias, por não ter medo de ouvir os que nunca foram ouvidos.
E também por ser alvo de críticas — muitas delas injustas. Alguns o chamaram de “comunista” por preferir almoçar com moradores de rua a frequentar banquetes oficiais. Outros o atacaram por falar de justiça social, de ecologia, de direitos humanos — como se isso fosse exclusividade de alguma ideologia.
Para mim, ele foi apenas fiel ao que pregava: estar ao lado dos invisíveis.
Francisco não mudou a doutrina, mas fez a Igreja olhar para além dos muros. E ao fazer isso, ofereceu ao mundo uma liderança diferente: mais próxima, mais humana, mais real.
Morre o Papa. Fica o exemplo.