Dá um nó na garganta passar em frente ao antigo Clube Concórdia e ver o abandono tomando conta daquele que já foi um dos principais símbolos da convivência social em Marechal Cândido Rondon. Mais do que um prédio em ruínas, o que temos ali é um retrato silencioso da passagem do tempo — e talvez da nossa incapacidade, como comunidade, de preservar aquilo que nos construiu.

Quem cresceu em Marechal Cândido Rondon tem, em algum momento da vida, uma memória afetiva ligada ao Clube Concórdia. Foram muitas as festas, casamentos, eventos sociais, tardes de domingo na piscina, churrascos no bosque, encontros na boate — a lendária boate do Concórdia. Era ali que as gerações se cruzavam: os mais velhos no carteado, os jovens nos esportes, as famílias reunidas no final de semana.

Quem viveu qualquer uma dessas experiências sabe que ali se formaram amizades, nasceram amores, consolidaram-se histórias.

Hoje, porém, a imagem é outra. Muros pichados, estrutura comprometida, mato alto, contas atrasadas desde 2007, dívidas acumuladas e denúncias de uso indevido do espaço por andarilhos, vândalos e usuários de drogas. Um cenário que preocupa e pede ação.

Por isso, a proposta apresentada na Câmara pelos vereadores Coronel Welyngton e Valdirzinho, sugerindo a desapropriação da área e implantação de um Centro do Idoso, merece atenção. A ideia de transformar aquele espaço degradado em um local de acolhimento, cuidado e convivência para os nossos idosos é nobre. É reconhecer o valor de quem construiu essa cidade.

No entanto, como todo projeto que envolve memória, espaço público e recursos, é natural — e saudável — que surjam questionamentos. Desde que o tema veio à tona, vi opiniões diversas nas redes sociais. Algumas pessoas defendem que o Centro do Idoso deveria ter uma sede nova, construída em outro local, mais apropriado para o tipo de atendimento previsto. Outras sugerem que o clube seja revitalizado com foco esportivo, aproveitando as estruturas existentes: piscina, quadras, salões. Não seria essa uma forma de resgatar sua vocação original?

E a prefeitura velha?

Há também um questionamento importante a ser feito: enquanto se discute a desapropriação de um imóvel privado, o que fazer com a antiga sede da prefeitura, no coração da cidade? O prédio está largado, apodrecendo dia após dia. Estrutura comprometida, janelas quebradas, cheiro de mofo e abandono. E o pior: nenhuma informação oficial sobre o que se pretende fazer com aquilo. Será que não seria mais lógico dar um novo uso àquele espaço, que já pertence ao Município?

Não há uma resposta única. O que não se pode fazer é empurrar o problema com a barriga, como tem acontecido nos últimos anos.

O Concórdia precisa de um novo destino. A cidade precisa decidir se vai deixá-lo morrer de vez ou se vai transformá-lo, ressignificá-lo. Da mesma forma a prefeitura velha. Qual será o destino daquela área? Vamos deixá-la apodrecer no centro da cidade até virar ruína total?

É hora de ouvir a comunidade, discutir alternativas, avaliar custos, ponderar os impactos sociais. É hora de lembrar que espaços carregados de história não devem ser tratados apenas com olhar técnico. Eles pedem sensibilidade. Pedem diálogo. Pedem visão de futuro.

Seja como Centro do Idoso, centro esportivo, espaço cultural ou uma combinação de todos esses elementos, o mais importante é que se faça algo. Com responsabilidade. Com respeito. E com o cuidado que a memória merece.

3 Replies to “Clube Concórdia: um pedaço da nossa história à espera de um novo destino

  1. Seria um investimento importantíssimo na cultura e na nossa história da nossa geração. Amizades, romances, músicas, danças esportes… São incontáveis as memórias. O primeiro carimbo que só enxergava com a luz tipo neon. Seria ótimo reviver um pouco desse passado que poderíamos mostrar pra juventude com fotos, vídeos e história contada através de memórias de pessoas que viveram essa época.

    1. Sobre “clubes” como antigamente eram chamados, essa época passou, assim como as “Associação de Moradores” nos bairros. “Os moradores” não participam e sem os “socios” sua manutenção é impossível. As famílias preferem áreas se lazer que temos na região (praia artificial, resort, camping, piscinas privados…etc). Essas duas áreas, Concórdia e Prefeitura antiga, precisam de decisões urgentes pra não acontecer como em Curitiba, que por causa de política (preservação de Patrimônio) tem dezenas de prédios abandonados e sem recursos ou boa vontade de recuperar.

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