Pela primeira vez o empreiteiro Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht, concedeu uma entrevista desde que foi preso, em junho de 2015. Foi para a Folha de S.Paulo, que publicou nesta segunda-feira (9).

Marcelo não quis falar sobre Lava Jato e temas políticos, mas deu detalhes sobre bastidores de alguns negócios que ilustram como eram os laços entre poder econômico e político. Confirma, por exemplo, que a Odebrecht atuou para incluir a Venezuela no Mercosul por interesse comercial.

O grupo baiano foi fundado em 1944, chegou a faturar R$ 132 bilhões e a empregar 193 mil pessoas. Desde a Lava Jato, no entanto, a empresa enfrenta dificuldades e atualmente passa por uma das maiores recuperações judiciais da história do país, com dívidas que chegam a R$ 98,5 bilhões.

O empreiteiro firmou um acordo de colaboração premiada e deixou a prisão em dezembro de 2017 para cumprir o regime fechado domiciliar com o uso de tornozeleira eletrônica. Em dezembro deste ano, conseguiu a progressão para o semiaberto e continua com tornozeleira.

Confira trecho da entrevista:

Folha de S.Paulo – Como é a sua rotina hoje? 
Marcelo Odebrecht – Minha rotina tem sido dedicada aos advogados e processos em que estou envolvido como colaborador, e a colocar minha vida em dia. Tenho também me encontrado com muitas pessoas que não via há um bom tempo e saído um pouco com a família e amigos, afinal foram mais de quatro anos de afastamento. Por fim, tenho procurado contribuir, no que posso, com a empresa.

Folha – O sr. se dedicou à expansão internacional da Odebrecht, com empréstimos do BNDES, em países como Cuba, Venezuela e Angola, alinhados politicamente com o governo brasileiro da época. Existia uma orientação? 
Marcelo – Ajudou o fato de o governo brasileiro ter uma boa relação. Grandes projetos de infraestrutura são estratégicos para o país.

Veja o caso da discussão do 5G. É óbvio que na contratação do 5G, o Brasil tem que levar em consideração a relação com a China e com os EUA.

É óbvio que, na contratação dos grandes projetos de infraestrutura, governos levam em consideração a relação política que têm com o país de origem daquelas empresas. Em vários países a gente competia com chineses, com empresas europeias, espanholas principalmente, e tinha um peso o fato de o país querer manter uma relação geopolítica fluída com o Brasil.

Folha – Mas existia uma orientação do governo sobre outros países? 
Marcelo – Não tinha. Normalmente, era a gente que conquistava os projetos e tentava reforçar a importância política desse projeto. O único país que a gente percebeu que houve uma boa vontade maior, uma atuação, um esforço maior do governo para ajudar a aprovar o crédito [do BNDES] foi na questão de Cuba.

Em todo esse período foi o único que eu percebi. E, a meu modo de ver, considerando aquela época, não foi uma aposta errada.

No início, eu pessoalmente tinha um receio desse financiamento. Achava complicado. Existiu uma reação muito grande dos nossos clientes na Flórida, que era a nossa maior operação americana, tinha mais de 20 anos.

A gente tentou, inclusive, sair fora no início, mas era complicado. Como a gente ia usar o argumento de que uma empresa brasileira não pode atender a geopolítica brasileira porque atua nos Estados Unidos? De fato Cuba não foi uma opção fácil para a gente, mas acabamos indo.

Confira a entrevista completa no site da Folha. 

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