Há semanas os rumores sobre a possível transferência da sede administrativa do BPFron para Guaíra começaram a circular. A imprensa local, incluindo este Blog, soou o alarme. Falou dos rumores, ouviu fontes, contextualizou o impacto e cobrou posicionamentos.
O alerta foi dado. Alto e claro.
Mas, como ocorre em tantas outras situações, Marechal Cândido Rondon parece ter criado um talento especial para normalizar o absurdo. Para achar “natural” perder espaço, perder serviços, perder relevância.
A Câmara foi a única que se mexeu
Dois requerimentos aprovados na sessão de hoje (17) pela Câmara mostram que o Legislativo entendeu a gravidade do momento:
No Requerimento 513/2025, os vereadores pedem ao governador e ao secretário de Segurança Pública que garantam a permanência da sede.
No Requerimento 509/2025, convocam autoridades políticas, comandantes das forças de segurança e entidades para uma reunião no dia 24 de novembro, numa tentativa de construir uma reação conjunta.
É movimento político, necessário, urgente e coerente com o tamanho da ameaça.
E as falas dos vereadores, especialmente do Coronel Welyngton, reforçam isso. Ele recordou que Marechal Cândido Rondon lutou por anos até conquistar o BPFron e que essa vitória tem assinatura de lideranças como Elio Rusch, Ademir Bier, Werner Wanderer e inúmeras entidades locais.
Um alerta interno
Durante a sessão, o vereador Fernando Nègre também fez um apontamento incômodo, mas necessário. Relatou que, em conversa com o vice-prefeito Vanderlei Sauer, ouviu que a Prefeitura teria tentado contato com o secretário estadual de Segurança, Coronel Hudson Teixeira, e que este simplesmente não deu retorno.
O vereador levantou a possibilidade co-responsabilidade do Poder Legislativo. Não disse, mas claramente Nègre se referia ao recente projeto que a Câmara aprovou proibindo o município de doar ao Estado a área destinada ao novo presídio.
Se for verdade, é grave. Se não for, é grave também. Porque o silêncio oficial do Estado é um sinal de desprezo ou desinteresse pela cidade.
E a Prefeitura? Silêncio é omissão
Enquanto a imprensa alerta e a Câmara reage, o Paço Municipal mantém uma postura intrigante: silêncio absoluto.
O que fez a Prefeitura até agora para evitar a transferência?
Quem procurou?
Quais portas abriu?
Qual interlocução estabeleceu com a Secretaria de Segurança Pública?
O prefeito e o vice concordam com essa aparente acomodação?
Por que ainda não se posicionou?
O silêncio do Executivo não apenas incomoda. Ele pesa. Pesa porque transmite fraqueza política. Pesa porque passa a impressão de que a cidade está sozinha nessa luta.
E a sociedade organizada? Onde estão Acimacar, OAB e tantas outras?
Quando Marechal Cândido Rondon brigou pela instalação do BPFron, as entidades foram fundamentais. A Acimacar levantou bandeira, mobilizou empresários, pressionou políticos. A OAB se posicionou. Conselhos e sindicatos participaram do debate.
Agora? Silêncio. Onde estão as lideranças atuais destas entidades? Preocupados se vai ter um feriado a mais no calendário anual do município? Só isso?
É curioso: Marechal Cândido Rondon cobra protagonismo regional, mas demonstra dificuldade crescente de agir coletivamente. E o Coronel Welyngton no seu pronunciamento foi cirúrgico ao alertar: “quem ajudou a trazer precisa ser lembrado, mas quem deixar ir embora também será”.
Se desta vez as entidades ficarem caladas, a omissão terá nome, sobrenome e consequências.
Uma cidade que perde
Nos últimos anos, Marechal tem colecionado derrotas estratégicas:
Perdeu a Receita Federal, um símbolo de importância regional.
Perdeu o presídio, que resolveria o caos da cadeia central.
Agora está a um passo de perder o BPFron.
A pergunta que fica não é sobre o hoje, mas sobre o amanhã:
O que vem depois?
Vamos perder a sede da Comarca?
Vamos ver o campus da Unioeste encolher?
Vamos abandonar o protagonismo que levou décadas para ser construído?
Marechal Cândido Rondon não está quebrando porque falta dinheiro. Está enfraquecendo porque falta liderança, unidade e coragem coletiva.
A cidade que um dia lutou para conquistar começa a se tornar a cidade que simplesmente assiste perder.
Ainda dá tempo de reagir. Mas o relógio já está andando.

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