Johny Guenther é daqueles talentos que Marechal Cândido Rondon revelou ao mundo. Nos anos 90, tive a sorte de tê-lo como colega no jornal O Presente: eu, editor-chefe; ele, cartunista afiado. Bastava uma ideia lançada na redação e, em minutos, Johny transformava palavras em traço, ironia em arte.
Mas, não é todo dia que se vê um filho de Marechal Cândido Rondon vencer uma batalha judicial contra o Banco Central do Brasil. Mas, isso acaba de se concretizar, envolvendo justamente o desenhista Johny, atualmente radicado em São Francisco do Sul (SC).
O Banco Central plagiou um desenho seu e agora terá que indenizá-lo e ainda reconhecer publicamente sua autoria.
O desenho na moeda olímpica
A história começa em 2012, quando Johny foi contratado pela Univille Universidade para criar as ilustrações do Projeto Toninhas, que rendeu um livro paradidático e uma série de imagens educativas.
Uma dessas ilustrações, a dupla de toninhas, acabou estampando em 2015 uma moeda comemorativa das Olimpíadas Rio 2016. O detalhe: o Banco Central nunca pediu autorização ao artista.
A moeda de prata, vendida a R$ 195,00, teve tiragem de quase 19 mil exemplares.
Multiplique e veja o peso do suposto “equívoco”: milhões de reais em circulação, à custa de um desenho reproduzido sem sequer o crédito ao autor.

A Justiça reconheceu o plágio
Johny não deixou barato. Ingressou na Justiça, com a causa conduzida por seu irmão, o advogado rondonense Christian Guenther, do escritório Guenther & Schumacher. Depois de anos de disputa, a Justiça Federal foi clara: houve reprodução indevida. Em 2018, o juiz de Joinville reconheceu Johny como autor do desenho e condenou o Banco Central a indenizá-lo por danos morais.
Mais tarde, em instâncias superiores, a indenização foi majorada para R$ 100 mil, além da obrigação de o Bacen reconhecer publicamente a autoria, tanto no site oficial quanto em jornais de circulação nacional.
Um artista contra o gigante
Não se trata apenas de dinheiro. Trata-se do direito de autoria, do reconhecimento moral que nenhum contrato pode apagar. Mesmo que o direito patrimonial tenha sido cedido à Univille, o direito moral é inalienável. Johny venceu porque persistiu.
O caso revela como até uma instituição como o Banco Central pode “escorregar” feio em algo básico: respeitar quem cria. É simbólico que um rondonense tenha dado essa lição.
Mais que uma vitória pessoal, a decisão é um marco para todos os artistas e também jornalistas, que, diariamente, veem suas criações apropriadas sem crédito.
No fim, fica a imagem bonita das toninhas, mas também a lembrança amarga de que Brasília tentou levar de graça o que nasceu do talento de um filho de Marechal.