Quando vou a eventos públicos, costumo prestar muita atenção no que as autoridades falam nos seus pronunciamentos. As falas das autoridades revelam muito mais do que o protocolo sugere e às vezes até escapam verdades inconvenientes ou recados bem calculados.
E no lançamento do Ecoturismo 2025, realizado na manhã desta terça (2), foi exatamente isso que aconteceu. O presidente da Câmara, Valdirzinho Sachser (União Brasil), concentrou na sua fala o maior número de recados possíveis, misturando gafes, ironias, defesas e cutucadas que, claro, não passaram despercebidas pelo Blog do Jadir.
Antes dessa análise, vale destacar o resgate do Ecoturismo. A retomada do evento é mérito da atual gestão, com o empenho do secretário Claudinho Koehler, do diretor de Turismo Neri Wagner e da administração Backes e Sauer. A programação, que teve sua primeira edição em 2013, ainda na gestão Moacir Froehlich, coordenada pelo próprio Claudinho, ficou paralisada em 2020 por causa da pandemia e nunca mais havia sido retomada. Agora, volta ao calendário como vitrine para Porto Mendes e para toda Marechal Marechal Cândido Rondon.
Paquinha no palanque
Mas, vamos ao discurso.
Valdirzinho abriu sua fala com uma escorregada daquelas. Ao cumprimentar o assessor da Secretaria de Estado do Turismo, Valmir Pakinha, resolveu brincar com o nome e fez ligação direta com o animal silvestre da região: a paca.
Até soltou a pérola de que por aqui o pessoal gosta muito de uma “paquinha”.
Logo caiu a ficha de que, em público, talvez não fosse a comparação mais feliz. Mudou de rumo às pressas, mas o estrago já estava feito. Tomara que Valdirzinho não precise se explicar aos órgãos ambientais sobre essa história de “gostar de uma paquinha”.
O vereador de confiança
Na sequência, veio outro ponto curioso, agora já no campo político. Valdirzinho resolveu fazer um destaque especial ao vereador de oposição Fernando Nègre (PT), chamando-o de “vereador de confiança” da mesa diretiva.
Recado cifrado ou sinceridade explícita? A frase ficou no ar: afinal, os demais não gozam da mesma confiança? Ou Nègre estaria conquistando espaço como aliado improvável?
Acompanhando quase todas as sessões, eu já havia notado essa sintonia discreta de Fernando com a mesa diretora, especialmente o presidente Valdir e o primeiro secretário Coronel Welyngton.
Nada de estranho nisso. Afinal, ele é inteligente o suficiente para não entrar em divididas desnecessárias com quem comanda a Casa (tem gente que entra toda hora). Mas foi a primeira vez que ouvi essa admissão em público, da boca do próprio presidente.
Do pó à promessa cumprida
Se o Ecoturismo 2025 tem endereço certo, é Porto Mendes. Valdirzinho fez questão de lembrar que por muito tempo o distrito viveu de discursos e promessas de campanha que nunca saíam do papel. “Ninguém vive de promessa, vive de obras”, disse. Segundo ele, Porto Mendes cansou da mesmice e agora começa a respirar novos ares.
O presidente da Câmara foi além: reconheceu que a transformação não veio sem dor. Lembrou que houve poeira, barulho e transtornos durante as obras da avenida, mas hoje o distrito é outro, com mais ânimo e visibilidade.
Foi o típico discurso para valorizar o presente, mas também para mandar recado: se Porto Mendes suportou o “amargo da transformação” e começa a colher os frutos agora, Marechal também precisa encarar debates espinhosos. A analogia caiu como uma luva para o tema do momento: a construção do presídio.
Entre barulho e resistência, pode estar escondida a mesma lógica do progresso.
A lealdade como senha do poder
Outro ponto marcante foi a ênfase na palavra “lealdade”. Valdirzinho destacou a relação de mais de 30 anos entre o assessor Valmir Pakinha e o atual secretário de Turismo, Leonaldo Paranhos, como exemplo de lealdade política que atravessa cargos e governos. Disse que quem está no poder não esquece de quem foi leal. E eu acrescento: de quem deixou de ser, muito menos. E puxou o clássico “um por todos, todos por um”, como se fosse a senha para o bom funcionamento do grupo situacionista. Sei não, hein!
A mensagem foi além do protocolo e das palavras, mais uma vez. A fala soou como cutucada direta aos vereadores da base que, diante da pressão popular e do oba-oba das redes sociais, preferem fugir do enfrentamento ou do debate com argumentos concretos sobre a questão do presídio.
A lealdade, nesse caso, não seria apenas com o prefeito ou com a mesa diretora, mas com o próprio município.
Ter coragem para defender o que é necessário, mesmo que sendo impopular, é a verdadeira prova de fidelidade. Valdirzinho, no fundo, estava lembrando que barulho de máquina e poeira passam; já a falta de lealdade política pode custar caro e deixar marcas que nem o tempo resolve.
Estímulo ao prefeito
Não foi uma cutucada, mas um empurrãozinho. Valdirzinho reforçou que quem está no poder precisa agir. “Quando está no poder, tem que fazer”.
Soou como um incentivo direto ao prefeito Adriano Backes para encarar de frente os desafios, mesmo os espinhosos. Olha o presídio aí de novo, nas entrelinhas. Realmente, é justamente esse tipo de decisão impopular, mas necessária, que testa a coragem de uma gestão.
Ao mesmo tempo, o presidente blindou o prefeito. Lembrou que não se pode jogar nas costas de Backes obras paradas há anos, como o teatro municipal, a Praça Willy Barth, os problemas na educação ou até a situação do lago. São problemas herdados, não criados em oito meses.
A mensagem foi clara: o prefeito precisa de tempo para mostrar resultados, mas também de coragem para não se esconder atrás da pressão popular.
O exagero dos discursos
E por falar em discursos, que exagero! Normalmente eventos assim são objetivos, mas nesta terça todo mundo que estava na frente de honra resolveu falar.
Foram oito discursos seguidos. Parece que ninguém quis ficar de fora para não gerar melindre.
Mas convenhamos: para um governo que prega modernidade e repete o slogan “menos conversa, mais trabalho”, o excesso de microfone soa contraditório.
Fica a dica!
Veja o discurso do presidente Valdir Sachser, extraído da transmissão ao vivo feita pelo portal “AquiAgora.net”:

One Reply to “No palco do Ecoturismo, Valdirzinho mistura gafe e recados políticos”