Na sessão da Câmara desta segunda-feira (10), a vereadora Tânia Aparecida Maion (Republicanos) sofreu um revés político raro na história do Legislativo rondonense. Um requerimento de sua autoria foi rejeitado por 11 votos contra um (o dela). O resultado pior que o Brasil x Alemanha, mas que já era esperado, uma vez que os discursos que antecederam a votação indicavam o desfecho. Tudo por tentar fazer da Câmara uma extensão de sua corrente ideológica.
A matéria pedia que o município, ao invés de destinar uma área de 50 mil m² para a construção de um Instituto Federal do Paraná (IFPR), fosse dada prioridade à criação de novos CMEIs, numa clara oposição ideológica ao projeto encampado pelo vereador Fernando Nègre (PT) em apoiar uma luta antiga da sociedade rondonense em favor de uma instituição para formação profissional.
Não fosse esse detalhe (ao invés), certamente o requerimento da vereadora teria o aprovo de todos os vereadores. Muitos, inclusive manifestaram que defendem a construção de mais creches, mas que também apoiam a destinação de área para a implantação do IFPR.
Algo muito raro
Nos mais de 30 anos acompanhando a política rondonense e os trabalhos da Câmara, é difícil lembrar de um requerimento ou indicação que tenha sido reprovado, dada a raridade desse tipo de situação. Normalmente, os vereadores articulam com os colegas qualquer tipo de matéria justamente para evitar um vexame em plenário.
Tânia Aparecida, porém, ainda não aprendeu a fazer isso (isso se chama política). Ela também não soube interpretar os pronunciamentos que antecederam a votação. Se tivesse, certamente teria pedido a retirada da matéria para evitar a derrota humilhante.
Rejeição com argumentos fortes
Entre os vereadores que se manifestaram já na tribuna contra o requerimento, Fernando Nègre destacou que a proposta de instalação do IFPR não é um projeto pessoal ou de seu partido, mas sim um anseio antigo da sociedade organizada de Marechal Cândido Rondon, com apoio expressivo da Acimacar, de outros vereadores e de municípios vizinhos.
Da mesma forma, Coronel Welyngton (União Brasil) reforçou sua oposição à objeção levantada por Tânia, deixando claro, em discurso contundente, que há maneiras adequadas de se articular projetos sem recorrer a medidas polêmicas e mal planejadas.
Os vereadores, de forma unânime, reforçaram a necessidade de ampliar a oferta de vagas nos CMEIs e se posicionaram a favor da construção de novas unidades para atender à crescente demanda. No entanto, a maioria deixou claro que esse objetivo não pode ser alcançado às custas da suspensão da cessão de uma área a ser destinada ao IFPR, algo igualmente fundamental para o desenvolvimento educacional do município.
Política de likes e postagens
Diante da derrota consumada, a vereadora ainda tentou justificar-se, alegando que sua intenção era apenas destacar a prioridade da educação infantil. No entanto, ao invés de utilizar o plenário para sustentar seus argumentos, disse que explicaria melhor sua posição em suas redes sociais — uma prática que se tornou frequente em seu mandato.
O fenômeno da “legislação por rede social” já gerou polêmicas anteriormente, como quando atacou o colega Rafael Heinrich (União Brasil) sem justificativa há poucos dias. O fato de novamente recorrer às redes sociais para justificar sua postura levanta questionamentos sobre seu preparo para a função de vereadora e seu compromisso com o debate institucional e a transparência parlamentar.
Queimando a largada (mais uma vez)
A atuação virtual da vereadora na sessão desta segunda não para por aí. Na mesma sessão, outro requerimento de sua autoria acabou não sendo votado. Ele foi direcionado para análise da Procuradoria Jurídica e das comissões permanentes. A proposta? A realização de uma audiência pública sobre a vacinação infantil contra a covid-19, cuja competência não é do Município.
Antes mesmo da tramitação oficial, Tânia já havia publicado um convite para o evento em suas redes sociais (sempre nas redes sociais), como se a audiência já estivesse aprovada. A precipitação, que já se repetiu em outras ocasiões, demonstra uma clara desconexão entre o processo legislativo e a estratégia de marketing político da vereadora.
Se o objetivo é mobilizar seguidores e gerar engajamento digital, Tânia Aparecida parece estar no caminho certo. No entanto, se a intenção é representar de fato a população com responsabilidade e respeito ao regimento da Câmara, sua postura tem deixado muito a desejar.
Política se faz com conversa e discussão séria, não com postagens e likes.
Será que também teremos reprises na Câmara da rezas pra pneus e requerimentos por celulares para extraterrestres?