Durante décadas, a política de Marechal Cândido Rondon teve duelos sempre previsíveis: de um lado, o MDB; do outro, o velho PFL (que era Arena e virou PDS, depois PFL, DEM e agora União Brasil). Os eleitores já sabiam que a disputa era sempre entre os mesmos caciques, as mesmas legendas, os mesmos embates. Mas, como tudo na vida, uma hora o script cansa. E foi isso que aconteceu em 2024: a política rondonense finalmente virou a página.

O fenômeno começou ainda na pré-campanha, quando os dois grupos que sempre dominavam as eleições sequer tiveram candidatos a prefeito. A oposição lançou o jovem vereador Arion Nasihgil pelo PL e não deu margem sequer para uma aproximação dos mais antigos.

Na situação, o Progressistas (PP) saiu da sombra e, pela primeira vez, colocou um prefeito na cadeira principal: Adriano Backes. O vice, Vanderlei Sauer, ainda carrega o União Brasil no peito, mas sua ala já não tem muito a ver com o antigo PFL.

Rompimento e novas alianças

Ao longo dos últimos anos, a oposição estava sem expressão. A própria Câmara de vereadores era um retrato disso. As maiores lideranças estavam do lado da situação e o grupo até então comandado pelo ex-prefeito Marcio vinha inchando. Já era muito cacique pra pouco índio.

Quando se imaginava um racha na pré-campanha de 2024, isso não aconteceu, o que foi decisivo para a vitória de Backes nas urnas. Apenas o ex-vereador Portinho desembarcou do grupo naquela ocasião. 

Mas, o que já estava escrito aconteceu logo após a eleição. Qualquer um que acompanha de perto a política percebia que um racha era questão de tempo. Apenas não esperava que fosse tão rápido.

Quando Marcio Rauber simplesmente não deu as caras na posse de Backes, ficou clara uma ruptura no grupo. Com o passar dos dias a coisa só piorou e as demissões de secretários ligados ao ex-prefeito deixaram claro que o divórcio era litigioso.

Backes, sem demora, ampliou o flerte na outra ponta. O tratamento cordial que o novo prefeito vem dando aos vereadores supostamente de oposição (Juca, Padeiro, Spohr e Nègre), certamente vai criar um novo cenário até a próxima eleição municipal. O flerte pode virar num relacionamento mais sério e reforçar sua base.

Dou outro lado, Marcio Rauber deve juntar os cacos quebrados entre descontentes de um lado e de outro, provavelmente procurar um novo partido, formar um grupo novo e apostar na sua popularidade para confrontar Backes em 2028. A viavilidade de uma candidatura a deputado em 2026 parece cada dia mais difícil.

O fim dos medalhões

E os antigos medalhões? Ademir Bier e Elio Rusch, que por décadas seguraram as pontas de MDB e PFL, agora estão focados em cuidar das próprias vidas. Ademir, com cargo no Estado, saiu frustrado com os rumos da eleição passada e sequer apareceu para votar. O seu partido, o velho MDB de guerra, não conseguiu nem mesmo eleger um vereador.

Do outro lado, Elio Rusch, nome fortíssimo por décadas, já não tem mais voz ativa. Está tranquilo com seu cargo de ouvidor na Assembleia e até agora não deu um pitaco sequer sobre a crise que se instalou entre Backes e Rauber. 

A eleição passada também encerrou o ciclo de outras figuras tradicionais nas últimas décadas, como Pedro Rauber, Moacir Froehlich, Portinho, Ila, entre outros. Só Valdir Sachser que ressurgiu das cinzas. Eles deram lugar a caras novas como o Coronel Welyngton, Fernando Nègre, Sargento Spohr, Tânia Maion, Marciane Specht, Marciel Escher, que se somaram a outros mais jovens que já figuram na história política mais recente.

Novos partidos como o PP, o PL, o Republicanos e o Podemos assumiram o protagonismo. Até o PT – que durante anos nem ousava sonhar alto na política rondonense – conseguiu beliscar uma cadeira na Câmara de Vereadores com Fernando Nègre. Um feito e tanto em um município historicamente avesso à esquerda.

A política em Marechal Cândido Rondon parece ter finalmente se reinventado. Se para melhor ou pior, só o tempo dirá. O que é certo é que a hegemonia de dois grupos que monopolizavam as decisões ficou para trás. Agora, o jogo é outro. E como todo novo campeonato, promete emoções, surpresas e, claro, aquele tempero de imprevisibilidade que há muito tempo a cidade não via.

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