ImigrantesÉ entristecedor ver nas redes sociais manifestações de pessoas contra o fato do governo brasileiro colocar cerca de 400 imigrantes da Síria no programa Bolsa Família. Manifestações de gente ligada a comunidades religiosas, a entidades filantrópicas, pessoas que se consideram de “bom coração” e que acabam colocando a política à frente do sofrimento semelhante ao qual passaram seus próprios antepassados.

Importante enfatizar que discriminar pessoas não é e nunca foi um direito de quem quer que seja. E isso não se aplica apenas às mulheres, aos negros, aos homossexuais… Isso se aplica também aos estrangeiros, principalmente aos refugiados de regimes de opressão. Alguém que discrimina pessoas por status social, religião, cor da pele, opção sexual, opção política ou qualquer outra manifestação, pra mim é intolerante e estúpido.

Voltemos aos imigrantes.

O que mais assusta no discurso daqueles que discriminam os imigrantes e se manifestam contra a concessão de benefícios a estes é a desconexão com o seu próprio passado recente, ou melhor, dos seus pais, avós, bisavós, tataravós ou talvez um pouco mais longe.

São portugueses, alemães, italianos, russos, japoneses, poloneses, libaneses, entre tantos outros que conseguiram abrigo nesta terra, escapando das guerras e da fome na Europa e na Ásia. E foram bem acolhidos pelo governo imperial ou republicado, que lhes garantiu o asilo e até terra e bens para reiniciar a vida no Brasil. Muito, mas muito além de uma simples Bolsa Família.

É uma desconexão muito grande para com as migrações de haitianos, africanos, asiáticos e agora especificamente dos sírios. Algo que impressiona não apenas pelo desconhecimento histórico, mas pela simples falta de reflexão, espírito humanitário e de coerência, principalmente para quem prega os preceitos cristãos.

Esse povo não sai do seu país simplesmente por que quer, para se aventurar no Brasil ou em qualquer outra terra. Assim como aconteceu com nossos antepassados recentes, eles fogem da guerra, da fome, buscam uma ponta de esperança para criar seus filhos num lugar mais tranquilo.

Os alemães, italianos, polonenses, japoneses que vieram para o Brasil, alguns há menos de 100 anos, fugiram dos seus países por razões bem semelhantes aos haitianos e sírios de agora. E eles também sofreram discriminação em função de suas culturas e formas de viver, que eram diferentes. Eu mesmo, descendente de quinta geração de imigrantes alemães, falei “erado” por muito tempo e ainda hoje sofro na língua e nos hábitos a influência da cultura trazida pelos meus antepassados, que vieram para o Brasil há quase 200 anos.

Mas, isso foi num período rudimentar, de pouca informação. Hoje, na era das redes sociais e da comunicação instantânea, as pessoas estão, ou deveriam estar, mais aculturadas e ter pouco mais de bom senso.

As migrações sempre fizeram parte da humanidade. Não há nada de novo nisso. Graças aos meios de transporte que temos hoje, isso acontece agora de forma muito mais dinâmica. Por isso não podemos nos surpreender com esse movimento migratório.

E, voltando novamente à questão da Bolsa Família, é bom lembrar que a legislação brasileira prevê a igualdade de direitos, incluindo os imigrantes. Isto está na Constituição e até nas políticas públicas em curso em muitos municípios, sem contar o que falam os Tratados Internacionais sobre a igualdade de direitos entre todos os seres humanos.

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